Branco no preto

Há quase quarenta anos, a ilha da Sbørnia foi assolada pelo rock n’ roll. Inconformados com o colonialismo cultural, dois artistas sbørnianos de máxima qualidade decidiram partir em busca de novos ares antigos e aportaram na terra do chamamé, do vaneirão e do xote.

Quando atracaram em um porto dito alegre, a proximidade portenha os incentivou a estabelecer um ecumenismo musical entre tangos e tragédias no sul do mundo. Kraunus, violinista, e Pletskaya, sanfoneiro, passaram a animar os tediosos verões gaúchos e os gélidos invernos campeiros em plena praça principal da cidade que os acolheu.

Mestres na mobilização de cabeças e corações, precisaram se separar por uma decisão do além, quase prenunciada um ano antes no espetáculo “Até que a Sbórnia nos separe”. O destino os levou a rumos diferentes e lhes trouxe novas parcerias.

Kraunus Sang encontrou Nabiha Nabaha, pianista e maestrina que migrava sozinha entre os continentes. Bons ventos a trouxeram aos mares meridionais e aqui kontra`trackou. O maestro a recebeu de violino em punho e estabeleceram uma sintonia criativa e sagaz.

Inspirados por vozes de outra dimensão, ambos emergiram da penumbra da saudade para iluminar os estrangeiros que admiram sua filosofia e atitude frente à bagunça geral. A pianista e maestrina acompanha o violinista nas incursões pelo interior das almas que riem de si mesmas, incrédulas pela obviedade do que não percebiam até o embarque na nau dos artistas.

Hoje a dupla frequenta novos ambientes e promove artistas novatos. O público, esse sim, já é conhecido. Tem gente que viaja à ilha da Sbørnia todos os anos e não enjoa (nem no navio nem do espetáculo). Tudo é renovado e igual, igualmente divertido e surpreendente.

Na Sbørnia, a morte é a única certeza. Adriana Marques e Nico Nicolaiewsky que o digam.

Porto Alegre, 9 de outubro de 2023.

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