O custo da rebeldia

Em geral sou prevenida, costumo sair mais cedo para chegar antes do horário em tudo. Sempre levo uma sombrinha comigo, tanto que meus colegas me apelidaram de Zé Carioca – mas bem que gostam quando precisam dela!

Por isso, nunca consegui usar bolsa pequena, sou a rainha da mochila. Tenho várias, umas mais refinadas para sair à noite, outras para o dia a dia. Umas têm um compartimento específico para transportar sombrinha, outras vêm com um mosquetão para levá-la molhada e uma não tem nada disso, mas uso com uma sacola plástica dentro.

Naquele dia, esqueci da vida e me fui. Preocupada com o horário na cabelereira, peguei o primeiro ônibus que passou sem me dar conta de que não era o direto. O trânsito empacou e me vi revisando minha agenda do dia para reorganizar compromissos – de hoje não passa!

Cheguei um tanto atrasada e a moça me atendeu no intervalo seguinte. Desculpei-me e me preparei para aventura. Dona de um cabelo liso que mais parecia uma antena parabólica de tanto frizz, decidi aceitar o desafio de discipliná-lo, como dizia a funcionária; pensei, que expressão engraçada para um tratamento capilar. Lá fui eu um par de vezes do lavatório para a cadeira e da cadeira para o lavatório, um odor que mais parecia de oficina mecânica. Depois o secador e ainda um “spray reparador” – do quê? Só podia ser do rombo no meu parco salário como professora mal remunerada.

Recomendações feitas (não molhar durante três dias e dormir sem desfazer o penteado) e pagamento efetuado, saí do salão às pressas para chegar à escola a tempo da reunião de docentes. Fui saudada por relâmpagos e trovões que não esperaram eu me abrigar na parada do ônibus para despejar toda a chuva esperada em meses de estiagem. Sem problema, iria proteger meu investimento recente com minha imbatível ferramenta antiaguaceiro.

Só que não a encontrei. Como assim, onde deixei? Devido à seca, considerei que seria razoável dispensá-la por um tempo. A tão desejada chapinha se desfez entre sair pela porta e colocar a mochila sobre a cabeça.

Frizz? Nunca mais. Tosei as madeixas em seguida.

Porto Alegre, 6 de novembro de 2023.

Deixe um comentário

Rolar para cima