Nem sei quando comecei a querer, mas sentia falta de arte feita por mim. Poderia ser pintura, escrita ou desenho, mas pensava na batucada.
Escutava aquele barulho ao longe, nos fins de tarde e pensava: É tanto ritmo que cansa. Trabalhando, não podia descobrir sua origem. Buscava o som pela janela do consultório ruidoso.
Um ou dois horários de folga, saio à cata da cadência. Sigo pela esquerda, outro dia caminho para a direita. Uma vez, fui até a rua de cima e desci a lomba.
Em uma tarde de engarrafamento, o motorista fez um desvio e passou em frente a um casarão que se destacava pela alegria. Gente chegando, conversas, música nos olhares – encontrei!
Nunca mais consegui voltar, pois a pandemia levou meus pacientes e deixou os artistas às moscas. Tudo fechou, o medo nos empurrou para dentro e deixou o fora vazio. Alguns desejos definharam e outros foram abandonados. As mãos, acostumadas ao labor, se deixaram pender sem vontade
É muita batida, treino, sincronia. Mas quero sim, um dia hei de aprender percussão.
Curiosa cidade, quase dá samba.