Crianças, pitocos, guris, piás, todos longe da escola por um ano e meio. E pior, longe uns dos outros!
Enfiados em casa, alguns sem acesso a pátio ou jardim, apenas esperando para viver.
Nas pracinhas, os brinquedos tristes lembravam da gritaria dos grandotes e do choramingo dos pequenos.
A Redenção, que já teve até zoológico e orquidário, virou uma passagem pouco recomendável para adultos, imaginem uma criança sozinha!
Na pandemia, esses serzinhos inquietos ficavam meio que aglomerados com os manos, mas sem poder interagir com os amiguinhos lá fora.
O que fazíamos na nossa vidinha aos 4, 5 anos, quando nem sabíamos distinguir entre ontem e o ano passado? Era comer, assistir TV, sonhar? Talvez desenhar com o toco de lápis, chorar até cansar, correr sem dó atrás do cachorro? Esperar o pai voltar com o rosto marcado pela máscara? Ansiar por um beijo da mãe assim que terminasse o ritual de desinfecção ao entrar em casa?
Nem sei, tudo isso faz muito tempo, eu era criança e muito me contaram, até que fui contar os mortos. Nossa, 600 mil brasileiros! Quantos deixaram filhos órfãos, quantos perderam seus filhos, quantos ficaram sem aula, quanto não conseguiram mais estudar?
Minha cidade, Porto Alegre, demorou a recuperar suas cores, talvez graças aos que nasceram naquela época e aos que lutaram para que sobrevivêssemos.