Retornar aos tempos em que se conversava frente a frente, brincadeiras na calçada e cachorro correndo atrás do próprio rabo. Colher goiaba e uva no pátio para fazer de tudo, degustar e compartilhar. Ler livros de papel, sentir a textura das histórias nos meus dedos; antes de começar, a grande pergunta cuja resposta não fazia diferença: – Será que tem alguma figura?
Como viver em meio a tantas conexões que insistem em me manter fixada a uma realidade que nem minha é? Deixem-me sonhar entre tantos estímulos, quero pensar nas minhas criações, não naquilo que chega por teclas que não consigo digitar. Tantos acessos ao que é alheio, tantas informações estranhas sobrecarregam minhas preocupações já bastante pesadas; nem sorrir consigo – cada um sabe do que estou falando.
Queria dar vazão às minhas palavras e lembranças, sentir o hoje sem saudosismo, reconhecer as origens e tatear os caminhos à frente. Experienciar uma rica vida interna graças aos amigos e aos amores que sobrevivem nas fotografias e que preenchem meu mundo no canto de um quarto de isolamento. Sou mais do que coração, fígado, rins, todos em falência de tanta saudade do que não digo mais.
Todos estes fios ao meu redor poderiam ser teias delicadamente resistentes, redes de proteção, obras de arte, roupas que aconchegam, belezas que enfeitam, tecnologias que cuidam de nós. São nós que me ligam à vida, basta deixarmos que vivam em vocês e em mim, em diálogo.
Até que eu deixe de existir.