Sou refém das minhas escolhas desde sempre. Optei por ser estudiosa, séria, aplicada. De poucos sorrisos, deixava de brincar para ficar ajudando em casa.
Escolhi guardar segredos, mas confiei nos ouvidos errados. Tímida, fui superada pelas esfuziantes. Decidida a cuidar dos outros, esgotei minhas energias até ficar inativa. Quando fui promovida, puxaram meu tapete.
Criei uma teia que mais me enredava do que conectava. Acabei me isolando com minhas mágoas, sem forças para buscar um colo que fosse. Insone por ansiedade, triste por solidão.
Acreditava que as paredes têm ouvidos e pensava que seria escutada. Chorava, mas ninguém vinha me ajudar. Sonhava com um abraço, mas apenas o cobertor me envolvia. Algo me dizia que o beco sem saída era pior do que parecia, e parei de sonhar. Decidi viver do meu lixo interno, reciclar o pouco de vida que respirava em detrimento de alimentar uma esperança que se esvaía. Nada de novo, pois passei a vida com saudade do que não tive.
Os muros foram se erguendo, mas nem notei. Não sei se meu olhar é que subia ou meus pés é que afundavam. Era como asas tentando alçar voo contra raízes presas ao chão.
Hoje, olhando de cima, penso que só consegui sair do buraco quando cheguei ao verdadeiro fundo do poço, um terreno sólido o suficiente para suportar um impulso derradeiro, tão vigoroso quanto o último suspiro.