Para onde vou agora mesmo? Qual plataforma usar? E a senha – ah, as senhas…
Ao vivenciar o isolamento físico, não social, participei de lives para tudo – aprender a cozinhar, analisar um livro, escutar um filósofo e até testar outra ferramenta de comunicação digital. Houve um dia em que estive em cinco grupos diferentes com pessoas do planeta inteiro; à noite, exausta e frustrada, me dei conta da loucura de ter me comunicado com centenas de participantes sem ter saído da minha cadeira. Logo eu, acostumada a dar aula presencial caminhando entre os alunos para envolvê-los nas discussões!
Isolada, a saída foi enfrentar a tela do computador, aquele fantasma onipresente capaz de conectar e desligar os olhares por vontade própria. Novata, deixo a câmera desligada, esqueço o microfone aberto e a iluminação ambiente não me favorece. Desando a me apresentar, esquecendo que apenas o organizador pode liberar o som; minha voz emudecida e nem me dei conta.
Estas interações mediadas por tecnologia em tempo real são como praticar natação, um esporte individual, para não dizer solitário (afinal, ninguém nada de mãos com o outro; no máximo, há um revezamento). Cada um espera para se manifestar e, muitas vezes, apenas por chat. Então, como fica o debate, a reflexão, a piscadela, o levantar da sobrancelha ao experimentar uma surpresa? São muitos dados, algum divertimento e pouca troca, o que leva a uma quase indigestão de informações.
Enfim, como manter a cabeça fora d’água nestes tempos de um exaustivo contato virtual com o mundo? Talvez voltando a escrever, telefonar, ler, gargalhar com vontade, chorar abraçado.
P.S.: Ironicamente, no fim daquele dia das cinco lives, recebi um convite para ser apresentadora de uma atividade deste tipo. Ri, pensei e aceitei. Vamos ver no que vai dar.