Em minhas viagens pela América Latina, encontrei inúmeros memoriais a militares a cavalo. Foram criados para celebrar feitos heroicos e conquistas sangrentas.
Muitas vezes escutei que a posição das patas do cavalo indicava a causa mortis do suposto herói (hombre, por supuesto): duas no ar, morreu em ação; uma pata dianteira elevada, morte devido a ferimentos sofridos em combate; quatro patas firmes sobre a base, óbito por causas naturais.
Li que isso seria uma lenda e que existem representações da mesma situação de diferentes maneiras. Ou seja, cada artista esculpe a destemida personagem conforme lhe apraz.
Nos Estados Unidos observei mais obeliscos do que estátuas equestres. Não há dúvida do caráter fálico de um monumento vertical, ereto, até agressivo. Talvez a falta de curvas e volteios atribua a eles a imagem de armas em posição de ataque, seja um revólver ou um lança mísseis.
Quando fui a Paris (visita rápida, três dias apenas), fiquei encantada com a Torre Eiffel. A cada saída do metrô à superfície, lá estava ela, imponente e graciosa, acolhedora e elegante. Da ida à padaria à visita ao Museu D’Orsay, sua presença me lembrava flores em brotação, natureza, vida eternizada. De longe, imaginava uma deusa envolta em faixas de broderie, cortinas de voil arejando a rigidez da vida urbana.
Ao visitá-la, a sensação de força e graça me surpreendeu. O gradil que a sustenta faz com que o vento a atravesse e refresque nosso olhar saturado de cimento e ângulos retos. Alçada às alturas, o apoio sobre delicadas treliças fez de mim um pássaro planando no céu gris de uma cidade iluminada por adornos dourados a cada ponte.
Agora, escrevo mirando a miniatura que ganhei da amiga que lá me recebeu. Guardada na cristaleira, ainda me admiro com a delicadeza da obra. É uma pena que fique no Campo de Marte, o deus da guerra para os romanos. Eu a teria plantado no Campo de Vênus, caso houvesse.
Porto Alegre, 2 de outubro de 2023.