Excessos

Dizem que ansiedade, depressão e estresse são excessos de futuro, de passado e de presente. Estamos todos cansados de tantas explicações, justificativas e advertências. Palavras demais nos esgotam, fotos de todos a todo momento nos exaurem, fake news dispersam nossa atenção.

O consumismo nos seduz e nos leva a despender o que não temos para tentar alcançar aquilo que não precisamos. Paixões nos enlevam apenas para nos decepcionarmos em seguida; o interesse por algo se transforma em desejo que, ao ser saciado, gera um vazio que exige outro anseio a ser atendido.

Vivemos em uma era de quase infinito egoísmo e irresponsabilidade para com os outros – faço o que quero e quando quero, o resto que se dane. Basta observar o desrespeito à acessibilidade nas vias públicas, o turismo predatório que arruína as relações locais e os recursos autóctones, o desperdício de alimentos e por aí vai.

Temos gramados impecáveis às custas de herbicidas, frutas perfeitas envenenadas por pesticidas, hordas de animais nocivos cujos predadores foram expulsos pela derrubada desmedida de árvores nativas. Água comprada a preço de ouro, descanso roubado em meio a trabalho extenuante, mobilidade impedida por veículos ruidosos e mal aproveitados.

É duro testemunhar a natureza destruída e a ruína do que construímos para o bem comum. A ganância pelo lucro e a desvalia do saber popular em prol de um conhecimento baseado apenas na técnica desconsideram a história e ciência que nos trouxeram até aqui. Notícias em tempo real versus soluções morosas, ar recondicionado para suportar a poluição, fones de ouvido de última tecnologia para aplacar o barulho dos vizinhos – quanto mais iremos suportar sem sucumbir à inércia?

Insaciáveis, exageramos na velocidade, na comida e na bebida. Esquecemos de aproveitar a paisagem em boa saúde e com bom humor, sem acelerar para chegar mais rápido a lugar algum, pois que logo se torna um não lugar como ponto de partida imediata para outro. Precisamos de mais tempo em nossa própria companhia, desfrutando conosco mesmos de nossas lembranças e sonhos.

Hoje não quero mais pensar no que poderia ter sido, no que fui e no que sou. Quero um tudo de céu, de água e de ar livre, sem barreiras nem exageros. Basta um barquinho e um dia de folga. Serei nostálgica? Utópica talvez.

Porto Alegre, 23 de outubro de 2023.

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