— E aí, Mário, como vai?
— Tudo certo, Drummond, sigo passarinhando por aí.
— Ando meio entediado aqui. Cansei de topar com pedras no meio do caminho. Sou de pouca conversa, mas queria escutar mais o povo.
— É verdade, sinto falta do alarido da Rua da Praia. Saía de casa e já estava na padaria em frente tomando café preto com quindim.
— Como eu disse um dia, meu prato predileto era a vontade de comer.
— Realmente. Lembra da Praça da Alfândega? Andava mais um pouco e já estava lá.
— Aquela do nosso encontro? O Stockinger caprichou, hein?
— Sim, pena que tem gente que não gostou e quis nos transformar em arte abstrata. Não ri, não!
— É engraçado! Talvez fossem artistas enrustidos em busca de notoriedade.
— Nessa época do ano sinto saudade da Feira do Livro. Chegaste a visitá-la?
— Acho que nunca fui, não encontrei na minha agenda. Invejo quem a frequentava.
— Era memorável! Cada autógrafo conquistado rendia um assunto.
— E a Bruna Lombardi segue sua fã!
— Sim, ela me lembra a Cecília Meireles, que conheci em 1935.
— Em 1952 confessei minha admiração por Hilda Hilst. Nem sei se ela se deu conta.
— Que mundão percorremos! Do Alegrete a Itabira, do pampa à região do ferro, e aqui estamos. Seca, enchente, tornados, muito já vimos, não?
— Para completar minha lista veio o crime ambiental cometido pela Vale.
— Olhando aqui de cima, o que mais me faz falta é a chuva. Fico só olhando as nuvens lá embaixo e lembrando do aconchego debaixo de uma sombrinha.
— Bons tempos, Quintana!
— É, Carlos, tempo bom mesmo!
Porto Alegre, 13 de novembro de 2023.