Porto Alegre é mais bonita de longe do que ao vivê-la. O ruído emborrachado do asfalto, a fumaça abafada dos carros e os passos atrasados dos que perderam a hora embalam uma aglomeração de vida que sugere, mas não soa.
De avião, a longa curva lá sobre os rios proporciona uma perspectiva diferente daquilo que circula em miniatura. Na água e em terra, pequenos seres cuidam da própria vida, apenas os passageiros lá em cima é que os relacionam entre si e com a cidade.
Do Guaíba, os olhos se colorem com o pôr do sol às suas costas, refletindo o dia que prepara a noite.
Lá da ponte móvel, o incômodo da espera é recompensado pela vista do rio abraçando a orla e do verde visitando os prédios. Na pressa, tudo isso se desfaz no tempo ganho.
Os morros oferecem uma lembrança do que os habitantes originais desfrutavam e que, possivelmente, maravilharam os açorianos fatigados da busca pelo pouso.
Dos cemitérios, uma vez longínquos, escutava-se o rugir do Olímpico; hoje, as tardes de domingo deixam nossos entes queridos descansar.
No tempo da enchente de 1941, os viajantes que chegava de balsa lá do sul traziam na mala a esperança marcada pela necessidade, a busca do futuro já prescrito. Com o catamarã, as idas e vindas ficaram mais confortáveis, mas não menos ansiosas.
Quem veleja ou pesca, pilota ou navega, caminha ou corre consegue apreciar a vida que escapa às margens e imaginar o que se passa lá por dentro, nas artérias que levam e trazem sonhos recentes e perdidos.