A cidade circula por tramas resistentes e frouxas, muitas conhecidas, outras inéditas. São malhas de convívio, de conveniência e de distanciamento. Alguns as consideram prisões, mas há quem pense em aconchego. Às vezes, facilitam o abandono e permitem a fuga, mas sempre há quem chegue e se procure.
Eventualmente, a rede se rompe e novos escapes se formam, escoando a pressa entre seus nós. Os pontos de parada se confundem e podem atrapalhar o novato, mas servem de desculpa para quem se atrasa. Novos encontros são possíveis.
A teia, que parece desorganizada, reflete o modo de andar a vida em seus ritmos acuados pelo relógio, esquecido logo ali na curva. Na esquina, um ângulo desvia o caminho e desacelera o rompante.
Na madrugada, a solidão da rua se ilumina a cada quadra onde circulo. Nada de breu, quero luminosidade.
Transitar à velocidade da luz da sinaleira, do farol do ônibus, da lâmpada no poste me faz lembrar de noites de Natal, de namoro até a madrugada, da busca por um alguém que não me queria. Penso nos sem-teto que não dormem no escuro e nos cachorros que despertam a cada freada raivosa. Recordo do passeio no carro novo que terminou em batida e da parada de ônibus que dava choque.
Agora, o que mais me anima é a perspectiva da chegada do abraço, que vem a passos largos para nos entrelaçar.