Entre o livro impresso e a prancheta, entre o e-book e o tablet, décadas de tecnologias leves e duras – e um ser humano. Alguém com história, vivência e quereres. Alguém que sabe de si, mas talvez não consiga dizê-lo no jargão aceitável. Afinal, competência cultural não é para qualquer um.
Bons tempos quando se conversava frente a frente, brincadeiras na calçada e o cachorro solto correndo atrás do próprio rabo. Colher goiaba e uva no pátio para fazer de tudo, degustar e compartilhar. Ler livros de papel, sentir a textura das histórias nos próprios dedos; antes de começar, a grande pergunta: Será que tem alguma figura? A resposta não fazia diferença, o importante era o enredo.
Como viver hoje em meio a tantas conexões (emaranhadas, soltas ou em Wi-Fi) que insistem em nos fixar a uma realidade quando apenas queremos sonhar? Um entorno tão poluído de estímulos que confunde o que é nossa criação e aquilo que chega em pixels. Tantos meios de acesso ao que é alheio, tantas informações estranhas à nossa realidade interrogam nossa capacidade crítica, exclusividade humana, para prevenir um consumo indevido de excessos e limitações – e cada um sabe do que estou falando!
Dar vazão às próprias palavras e lembranças sem saudosismo, mas reconhecer as origens e tatear os caminhos à frente. Experienciar uma rica vida interna, apesar do mundo insistir em padrões.
Fios também resultam em teias delicadamente resistentes, redes de proteção, obras de arte, roupas que nos aconchegam, belezas que nos enfeitam, tecnologias que cuidam de nós. São nós que nos ligam à vida, basta deixarmos que existam em vocês e eu, em diálogo.
Até que paremos de existir.