A escolha é sua, mas qualquer um que tenha passado sete anos junto de seu bem-querer sabe do que estou falando. Após um período de ajustes e conquistas, segue-se uma época menos conhecida por sua denominação do que por seu aspecto dramático, a malfadada crise dos sete anos – chegaram as bodas de latão ou de lã. Fico pensando em qual seria a similaridade entre estes dois elementos, um frio e outro aconchegante, para designar um aniversário de casamento; porém, descobri que poucas celebrações têm o nome de dois materiais de natureza distinta, mas isso é assunto para outra crônica.
Lá pelos seis anos e meio de união formal ou informal, começa a acontecer algo misterioso: eletrodomésticos deixam de funcionar, a casa precisa de consertos prementes, a tensão se eleva no lar.
Hoje em dia, esta fase instável tem mais a ver com a obsolescência programada do que com o efetivo tempo de uso dos bens adquiridos ao longo da convivência conjugal. Finda o prazo de validade de tudo que utilizamos, do colchão de molas ao ar-condicionado, do encanamento ao liquidificador, e a garantia se foi.
Tenta-se consertar, enjambrar ou ter paciência, dependendo da capacidade financeira e da criatividade de cada um naquele momento:
– Vamos esperar o Liquida Porto Alegre.
– Meu bem, estamos em março, agora só no próximo ano!
– Vamos usar apenas a função “lavagem” sem centrifugar.
– E no inverno chuvoso, vamos na sua mãe?
– Vamos assistir filmes no computador.
– Mas o lap top queimou ontem.
Embora a frustração possa chegar às alturas e o orçamento familiar despencar, existe uma alternativa: voltar aos velhos tempos e curtir uma torrada feita na chapa, conversar enquanto a água ferve para passar o café no filtro de pano e deixar um bilhete a caneta sobre o travesseiro lembrando como é bom estar juntos há 84 meses, 2.555 dias ou 61.320 horas, tudo calculado à mão.
Talvez, assim, possamos celebrar bodas de marfim daqui a sete anos.