Minha avó me ensinou a fazer geleia e aprendi a fazer pão sozinha. Salgados e doces não eram comigo, mas a confeitaria da esquina, com seu balcão envidraçado que merecia ser fotografado de tão convidativo e elegante, me salvava na hora H. Experimentei todos os chás, dos exóticos aos caseiros, e elegi menta e frutas vermelhas como meus acompanhantes.
Trabalhei muito além da idade de me aposentar, o que fez a lista de colegas se esvair. Os amigos também se foram, exceto um ou dois renitentes. Desculpe, “uma ou duas”.
A cada telefonema, uma vontade de convidar para me contarem de suas vidas, mas o temor da revelação congelava minha voz. E se…? Bem, haveria outras oportunidades.
E houve várias, todas desmarcadas por um motivo ou outro. Poucas vezes me decepcionei, era como se não quisesse mesmo receber ninguém para só falar de gatos, crochê e novela. Queria conversar sobre política, literatura contemporânea, as últimas de Brasília, essas coisas.
Minha vontade era de sair batendo perna por aí, muda ou tagarela ao meu bel-prazer, sem compromisso de horário nem pauta de assuntos aceitáveis ou absurdos. Porém, sem cachorro, bicicleta nem calçada, era difícil. O barulho do trânsito, a via esburacada e o medo de estranhos me faziam acelerar o passo.
Quando me dei conta, nunca tinha usado tudo que minha mãe bordou para mim, mas que guardei para não estragar – jogos de cama, toalhas de jantar, panos de prato temáticos, tudo novinho e amarelado. Usava sempre a mesma coisa em tecido lavável e cor pastel. Perguntava a um ou outro hóspede, “Você é de casa, não se importa, né?”
Ah, o desejo de inovar, este se revelava nos sonhos desejosos de companhia. Farta do silêncio, mudei de tática: aceitei convidá-la e marcamos para daí uma semana. Preparei minha melhor mesa, arrumei a cama com lençóis em ponto paris e caprichei no bolo chiffon. Tarde demais.