Nasceu na roça em uma família numerosa e trabalhadora. Aos poucos, a fertilidade do solo, encoberto por vegetais exóticos e tomado de areia, foi diminuindo.
Como tantas de sua geração, migrou em busca de melhores condições de vida e, líder por natureza, fundou uma comunidade em outro território. Muito responsável, mantinha sua equipe muito organizada e motivada. Não era adepta das tecnologias e tanto as tarefas como os frutos do trabalho duro eram compartilhados pelo grupo.
Passou anos ceifando pasto nos mais variados terrenos e carregando tudo nas costas. Às vezes, o peso era tanto que se desequilibrava.
Sempre desejou trabalhar com flores, mas isso fugia à cultura e às necessidades do coletivo, todos preocupados com a próxima colheita. Ao lidar com folhagens, deparava-se com primores da natureza que a encantavam, especialmente quando envoltas em perfume silvestre.
Nômades em época de seca, encontraram um refúgio temporário próximo a um parque impecável, com uma ou outra folhinha caída em meio ao verdor. Muitos não gostaram da decisão de ficar e seguiram adiante, mas ela permaneceu, pois tinha encontrado um dos seus encantos às margens da relva.
Que belezura! Sua cor predileta, um centro em outros matizes e, o melhor, miúda o suficiente para ser levada para casa. Enquanto pensava em como removê-la do talo esguio, bateu um vento e foi derrubada entre voleios, pousando a sua frente.
Feliz por ter encontrado seu pequeno sonho, partiu resoluta para recolhê-la com cuidado.
Morreu de desejo ao tocar a flor, tóxica para formigas.